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Pandemia de ansiedade: Brasil é o país mais ansioso da América Latina, diz OMS

Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que, no Brasil, existem 19 milhões de pessoas com ansiedade e depressão, o que faz do país o mais ansioso da América Latina. No Pará, a ansiedade não é um transtorno de notificação obrigatória, por isso, não há dados consolidados na região. No entanto, muitas pessoas convivem com o problema.

É o caso da fotógrafa e cinegrafista Cilla Noronha, 31. Ela convive com o diagnóstico de transtorno de ansiedade há cerca de oito anos, mas, mesmo antes disso, saúde mental já era algo com que ela se preocupava: “Eu sou autista nível 1, recém diagnosticada, e lido com o transtorno bipolar desde os meus 15 anos, então, a ansiedade acabou fazendo ‘parte do pacote’. Mas, na fase adulta, foi quando ela se mostrou mais prejudicial, creio que devido às demandas maiores que a sociedade requeria”.

Cilla, que também estuda canto, lembra que foi em uma apresentação que ela notou que havia algo de errado em relação à forma como se manifestava sua ansiedade. Ela conta que “travou” e não conseguiu prosseguir. Os sintomas começaram a surgir também quando qualquer atenção se voltava para ela. Até mesmo chamadas por telefone ou em vídeo se tornaram difíceis de lidar: “O que me prejudicou bastante nesses tempos de pandemia com a universidade e o curso de Espanhol que eu fazia, nos quais fiquei atrasada”, comenta. Mesmo depois do auge da pandemia de covid-19, algumas consequências da ansiedade permaneceram:

“Não concluí nenhuma faculdade até hoje e já fiz três cursos diferentes. Só terminei o curso de Espanhol porque ele tinha um tempo mais flexível, mas eu faltava muito, o que acabou me prejudicando no aprendizado real”.

Para lidar com o transtorno, Cilla precisou fazer uma série de adaptações no dia a dia, como: dar preferência por falar com as pessoas pelo WhatsApp; determinar aos amigos que eles precisam avisar com antecedência sobre algum compromisso, especialmente se quiserem fazer uma visita; evitar situações em que ela seja o centro das atenções; preferir compras on-line, entre outras.

“Quando eu tenho condição financeira, eu busco sempre a minha terapeuta comportamental, o que acho que é o ponto chave. Também evito situações de gatilho ou sempre busco enfrentá-las rodeada de pessoas de confiança que possam me dar um apoio”, afirma.

Ansiedade pode ser incapacitante

Terapia também foi o caminho escolhido pelo consultor de T.I., Felipe Pereira, 31. Há mais de 10 anos ele percebeu que determinados comportamentos estavam fugindo à esfera da ansiedade comum do dia a dia e começando provocar sintomas físicos:

“Eu sentia que pensar sobre o futuro estava sendo incapacitante, me fazia não ter ação nenhuma. Eu também sentia taquicardia palpitação. Eu demorei a entender o que era a minha ansiedade. Como eu fazia terapia, eu fui identificando o que me dava o gatilho e me levava a esses sintomas.

Felipe comenta que sempre teve muito acesso à informação sobre saúde mental e isso ajudou a perceber quando a ansiedade estava ficando fora de controle: “A ansiedade é um sentimento natural. Ela provoca o estado psicológico necessário para fugir de um perigo, por exemplo, mas o problema é que a gente acaba tendo esse mesmo comportamento com o pensamento, ao pensar no futuro, coisas que ainda não aconteceram. Isso causa sensações terríveis, como falta de ar, taquicardia muito forte… Esse pensamento é tão incapacitante porque a gente não consegue mais controlar. O transtorno acontece a partir daí”, explica.

“A ansiedade é muito negativa, ela coloca a gente pra baixo. Ela idealiza as situações e faz a gente ficar pensando em todas as formas de algo dar errado. Assim, o cérebro não dá conta, porque é toda hora, é constantemente”, descreve.

Levou um tempo para que Felipe encontrasse o tratamento adequado que, hoje, permite com que ele tenha mais qualidade de vida. Entre os recursos que o ajudam ele destaca o uso de um medicamento para dormirterapia para lidar com gatilhos e práticas meditativas.

Ansiedade não depende de evento traumático

ansiedade não é em si mesma uma doença, mas pode se tornar um transtorno mental, conforme explica a psiquiatra e membro da diretoria da Associação Paraense de Psiquiatria (APP), Daniele Boulhosa:

“A ansiedade é natural e geralmente provocada por algo que gera grande expectativa, seja uma coisa boa ou ruim. Mas ela passa a ser patológica quando ela perdura por mais tempo do que deveria, mesmo depois da solução daquela situação de estresse. Coisas que antes não eram motivo de preocupação passam a gerar uma ansiedade enorme, provocando até sintomas físicos e impossibilitando que a pessoa desenvolva suas atividades normais”, diz Daniele.

Com a pandemia de covid-19, a psiquiatra lembra que a procura por ajuda com relação à saúde mental aumentou muito, mas ela aponta que a permanência do país em uma posição de destaque no ranking de ansiedade, mesmo após o auge da crise global na saúde, só demonstra que o transtorno não está, necessariamente, ligado a grandes crises.

“A vida ‘voltou ao normal’ depois da pandemia, mas vários problemas – que já existiam antes – se mantiveram. Mesmo pessoas que não tiveram nenhum tipo de experiência traumática ou grave crise também podem ser vítimas desse tipo de transtorno. Existem pessoas que têm sintomas físicos e vivem fazendo exames que nunca dão alteração, porém, mais tarde, descobrem que estão com ansiedade e nem sabiam”.

Daniele orienta que não apenas a própria pessoa, mas também amigos e familiares estejam de olho em sintomas e mudanças no comportamento que servem de alerta para o transtorno de ansiedade, como ter taquicardia, sudorese, dormências, insônia, evitar atividades que antes gostava de fazer ou ficar paralisado’ diante de determinadas situações, apresentar pensamentos negativos obsessivos, deixar de praticar atividades comuns do dia a dia, como sair de casa, trabalhar ou se dispor a relações com outras pessoas etc.

“Ao procurar um psiquiatra, o paciente pode chegar a fazer uso de algum medicamento para melhorar o quadro durante a crise, mas é importante fazer terapia para que ele aprenda a lidar com o pensamento ansioso. Ninguém precisa ter medo de ‘viciar’ ou ‘ficar dependente’ do medicamento, porque com a terapia associada, o tratamento tende a ser mais breve e a possibilidade de retirada do remédio depois é muito mais certa”, orienta a especialista.

 

Fonte: Oliberal

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