O sexto Relatório-Síntese do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) aponta que ainda é possível reverter as emissões de gás carbônico para impedir uma crise climática. O documento foi divulgado nesta segunda-feira (20/3).
Esta é a primeira publicação abrangente sobre o clima em nove anos, e a primeira desde o Acordo de Paris, tratado internacional sobre mudanças climáticas de 2015.
O relatório aborda as perdas e os danos que o mundo experimenta e que continuarão no futuro. De acordo com o painel do clima, com atitudes certas, é possível atingir um futuro sustentável. “Esse Relatório-Síntese ressalta a urgência de ações mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável e habitável para todos”, afirmou Hoesung Lee, presidente do IPCC.
Em 2018, o grupo destacou a escala sem precedentes da necessidade de manter o aquecimento em 1,5°C. Cinco anos depois, esse desafio tornou-se ainda maior, devido ao aumento contínuo de emissão de gases de efeito estufa. O ritmo e a escala do que foi feito até agora, diz o painel, são insuficientes para enfrentar as mudanças climáticas.
Mais de um século de queima de combustíveis fósseis levou ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-industriais, o que resultou em eventos climáticos mais frequentes e mais intensos. Segundo o IPCC, cada aumento no aquecimento resulta em perigos como ondas de calor mais intensas, temporais e outros eventos climáticos extremos.
Perdas
“A justiça climática é crucial, porque aqueles que menos contribuíram para a mudança climática estão sendo desproporcionalmente afetados”, disse Aditi Mukherji, um dos 93 autores do Relatório-Síntese, o capítulo final da sexta avaliação do painel.
Segundo ele, “quase metade da população mundial vive em regiões altamente vulneráveis às mudanças climáticas”.
“Na última década, as mortes por inundações, secas e tempestades foram 15 vezes maiores em situações de alta vulnerabilidade”, completou Aditi.
A solução, segundo o painel, envolve a integração de medidas para se adaptar às mudanças climáticas, com ações para reduzir ou evitar as emissões de gases de efeito estufa, com o objetivo de fornecer benefícios mais amplos.
Para o IPCC, para que as mudanças sejam eficazes, essas escolhas precisam estar enraizadas em diversos valores, visões de mundo e conhecimentos, sejam científicas, sejam indígenas, sejam locais. Esta abordagem permitirá soluções localmente apropriadas e socialmente aceitáveis.
“Os maiores ganhos em bem-estar podem vir da priorização da redução do risco climático para populações de baixa renda e comunidades marginalizadas, incluindo pessoas que vivem em assentamentos informais”, disse Christopher Trisos, um dos autores do relatório.
Segundo o painel, há capital político suficiente para reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa. O IPCC recomenda o aumento do financiamento para investimentos, para que se chegue às metas de preservação do clima.
O relatório
O sexto relatório é produzido há alguns anos em três grupos de trabalho.
A contribuição do Grupo de Trabalho I foi divulgada em 9 de agosto de 2021; a do Grupo de Trabalho II ocorreu em 28 de fevereiro de 2022; e a do Grupo de Trabalho III, em 4 de abril de 2022.
Agora, o IPCC lançou a parcela final do Sexto Relatório de Avaliação, o Relatório-Síntese, que integrará as conclusões das três avaliações e os três Relatórios Especiais divulgados em 2018 e 2019.