O governo do Pará instituiu uma política estadual de atenção à gagueira que foi publicada no Diário Oficial do Estado na última terça-feira (13). O objetivo é criar uma rede de apoio e tratamento às pessoas que vivem com dificuldades em relação à emissão de palavras.
Agora, torna-se obrigação do poder executivo viabilizar os instrumentos para o diagnóstico correto, precoce e o tratamento multiprofissional e interdisciplinar voltado à pessoa que gagueja, bem como fomentar, na rede de ensino, atividades esclarecedoras sobre a condição.
A lei também instituiu a semana estadual de atenção à gagueira, que deve ocorrer sempre na terceira semana do mês de maio, com foco em atividades de sensibilização da população para o tema, a fim de também reduzir o preconceito.
Apesar de não haver dados locais sobre o tema, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística estima que dez milhões de brasileiros passam por um período de gagueira durante a vida. E cerca de dois milhões gaguejam de forma crônica, isto é, há anos ou até décadas.
As características mais reconhecíveis do desenvolvimento da gagueira são as repetições, prolongamentos e bloqueios na fala das pessoas. Elas também sofrem com tensão muscular durante a fala e podem exibir comportamentos secundários, como tiques e caretas. Isso tudo gera ansiedade e constrangimento.
Já a causa da gagueira é desconhecida, mas estudiosos entendem que boa parte dos casos é um distúrbio complexo de neurodesenvolvimento. E sabe-se que ela pode ser potencializada por algumas condições. Uma dessas condições é a ansiedade, como pontua a psicóloga Thaysse Gomes.
“Uma coisa que pode potencializar a gagueira são as questões de respiração. Todos os quadro psicopatológicos que envolvam alguma disfuncionalidade de respiração alteram e potencializam o efeito da gagueira. É um distúrbio de fala e é preciso identificar de onde está vindo e fazer exercícios para tratar isso. Em determinados casos, pode também partir de distúrbios emocionais, que geram dificuldades de comunicação. Você sabe o que quer falar, mas não consegue articular o tempo das palavras ou formar frases. Isso, claro, impacta na comunicação e na socialização. No nosso meio social, há um padrão esperado das pessoas e tudo que foge desse padrão não é bem visto. A gagueira entra nisso. É uma pessoa que não fala da maneira que seria esperada e é zoada, tratada como estranha. Mas o mais importante é lembrar que a gagueira não é irreversível. Existe tratamento com fonoaudiólogo, inclusive com auxílio de psicoterapia, que é bem-vindo, já que o medo e o nervosismo podem potencializar a gagueira. É importante deixar isso claro para não estereotipar ninguém e todos possam procurar tratamento”, diz.
Projeto de lei
O projeto de lei foi encaminhado ao poder executivo pela Assembleia Legislativa do Estado do Pará e é de autoria do deputado estadual Carlos Bordalo (PT).
De acordo com o parlamentar, o projeto foi apresentado porque as dificuldades na fala geram obstáculos para uma participação plena e efetiva do cidadão na sociedade em igualdade de condições.
Além disso, há uma tendência de piora do quadro clínico quando a gagueira não é tratada, especialmente, no período pré-escolar, podendo ocasionar consequências cognitivas, emocionais e sociais e impactar negativamente a qualidade de vida do falante.
“Apesar do conhecimento da alta prevalência da gagueira em pré-escolares e das consequências do distúrbio na vida do falante, a sociedade em sua maioria não apresenta reais conhecimentos sobre o distúrbio nem tampouco há políticas públicas voltadas, especificamente, para atender essa população”, pontua Bordalo.
Fonte: Oliberal