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Imagem: Reprodução/ Agência Pará / Arquivo

Açaí ganha força na China e simboliza nova era das exportações brasileiras

O açaí brasileiro, tradicionalmente exportado para os Estados Unidos e Europa, começa a ganhar espaço no gigantesco mercado consumidor da China. A mudança é impulsionada por uma combinação de fatores econômicos e geopolíticos: tarifas aplicadas pelos EUA sobre produtos agrícolas brasileiros, a reorientação da política comercial da China, e a crescente demanda chinesa por alimentos saudáveis e funcionais.

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Segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), as exportações de açaí para a China cresceram 215% no primeiro semestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024. Em volume, foram exportadas cerca de 1.800 toneladas do fruto e seus derivados (polpas congeladas e pós liofilizados), com faturamento de US$ 14,5 milhões.

A guinada chinesa em direção ao açaí faz parte de uma estratégia mais ampla de diversificação de fornecedores e segurança alimentar. Em julho, o governo chinês ampliou a lista de empresas brasileiras habilitadas a exportar alimentos processados e naturais. Entre os destaques estão produtores de café, gergelim e açaí — todos considerados produtos de valor agregado e alta demanda no varejo chinês.

“A China tem buscado diversificar suas importações para reduzir dependência dos Estados Unidos e outros grandes fornecedores. O Brasil se beneficia por ter uma produção agrícola vasta, de qualidade e com capacidade de expansão”, afirma Rodrigo Costa, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Tarifas americanas e realinhamento comercial

Desde o início de 2024, os EUA vêm adotando medidas protecionistas sobre produtos agrícolas processados, incluindo tarifas adicionais sobre o açaí congelado brasileiro — que variam entre 12% e 20%, dependendo do tipo de produto e estado de origem. A justificativa americana gira em torno de “práticas de subsídio indireto” e desequilíbrio na balança comercial, especialmente após o crescimento do agronegócio brasileiro no mercado norte-americano.

Com a redução da competitividade nos EUA, empresas brasileiras passaram a investir mais na Ásia. A China, com sua população de mais de 1,4 bilhão de habitantes e classe média em crescimento, tornou-se o novo foco.

Superalimento amazônico em alta

Na China, o açaí tem sido promovido como um “superfood” (superalimento) pela indústria de saúde e bem-estar. Rico em antioxidantes, fibras e gorduras boas, o fruto amazônico encontrou espaço em academias, cafeterias e até redes de fast food que buscam opções mais saudáveis em seus cardápios.

“Na feira SIAL China, em Xangai, neste ano, o açaí foi um dos produtos mais procurados. O consumidor chinês está mais atento à alimentação e busca ingredientes funcionais e exóticos”, explica Marina Guimarães, diretora da ApexBrasil na China.

A empresa Paraense Biofoods, uma das pioneiras na exportação de açaí para o país asiático, estima que suas vendas para a China vão superar as dos EUA até o final de 2026. “Estamos adaptando rótulos, sabores e até embalagens para o gosto local. Existe uma enorme janela de oportunidade”, diz Paulo Lima, CEO da empresa.

A ampliação do credenciamento de empresas brasileiras para exportação à China faz parte de um movimento maior de aproximação entre os dois países. Só em 2025, foram 88 novas plantas exportadoras autorizadas, incluindo laticínios, pescados, castanhas, café e frutas tropicais.

O Brasil já é o maior fornecedor de soja, carne bovina e minério de ferro para a China. Agora, a aposta está na diversificação e no aumento do valor agregado dos produtos exportados.

“É uma nova fase. A relação comercial com a China está deixando de ser apenas de commodities brutas. Estamos falando de alimentos processados, funcionais e com marca brasileira. Isso é um salto qualitativo”, avalia o diplomata Henrique Ferraz, especialista em relações comerciais Brasil-China.

Desafios e perspectivas

Apesar do otimismo, exportadores enfrentam desafios como logística, regulamentações sanitárias rigorosas e necessidade de adaptar campanhas de marketing ao consumidor chinês. A burocracia alfandegária também pode atrasar embarques, especialmente em regiões mais remotas da China.

Ainda assim, o potencial de crescimento é enorme. Segundo projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o mercado de alimentos funcionais na China deve movimentar US$ 23 bilhões em 2026, um aumento de 38% em relação a 2023.

Se mantiver o ritmo, o açaí poderá ser não apenas um produto de nicho, mas um verdadeiro símbolo da nova fase das exportações brasileiras: mais diversificadas, sustentáveis e com alto valor agregado.

*É proibida a reprodução deste conteúdo

Fonte: Diário do Caeté

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