Trabalho de etnobotânica pesquisou plantas utilizadas nas ritualísticas de terreiros da região. Resultados foram compartilhados com a comunidade.
Alunas do curso de Biologia do IFPA campus Bragança fizeram a defesa do trabalho de conclusão de curso em um terreiro de Umbanda em Tracuateua, nordeste do Pará. A apresentação formal dos resultados da pesquisa, que investigou plantas utilizadas nas ritualísticas da Umbanda na região dos Caetés, ocorreu na última quinta-feira (25).
Marielle Queiroz e Paula Gonçalves, alunas da turma 2020 de Biologia do IFPA, escolheram como local de pesquisa dois dos maiores terreiros de Tracuateua, o Espada de São Jorge, no bairro de Nazaré, e a Casa de Tupinambá, no conjunto Antônio Gomes da Costa.
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Durante um ano e dois meses, as estudantes visitaram os terreiros semanalmente, conversando sobre o uso de plantas com os membros e consulentes, médiuns e frequentadores que buscam assistência espiritual nessas casas.
As plantas são utilizadas em todas as ritualísticas da Umbanda, nas defumações, oferendas, passes e ornamentos, explica a professora Dra. Helane Santos, que orientou a pesquisa.
“Esses conhecimentos, sobre o uso dessas plantas, são ancestrais e repassados principalmente pela oralidade. Agora temos um registro”, destaca a professora. A ideia é fazer uma retomada pelo campo da biologia dos saberes ancestrais dos terreiros, diz Helane.
Alecrim, babosa, alfavaca, boldo, erva-cidreira e manjericão-roxo são algumas das plantas utilizadas em terreiros por todo o Brasil. Na região de Bragança, algumas espécies comuns na região estão incorporadas às ritualísticas, como é o caso da jurema-preta (Mimosa tenuiflora), usada nas defumações do terreiro Espada de São Jorge. E também do cipó-alho (Mansoa alliacea), da guiné (Petiveria alliacea) do pião-roxo (Jatropha gossypiifolia), encontrados nos dois terreiros de Tracuateua pelas pesquisadoras.
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A apresentação formal dos resultados da pesquisa à banca, formada por professores do IFPA, normalmente é realizada dentro da própria instituição, cumprindo os ritos da avaliação final do curso. Em razão do contexto e das particularidades da pesquisa, as estudantes escolheram levar a apresentação final a um dos locais onde ela foi realizada, a Casa de Tupinambá.
“Outros pesquisadores já estiveram aqui, pesquisando sobre o terreiro, porém ninguém, nenhum deles, retornou para esse espaço para apresentar os resultados”, disse a mãe de santo Cleide Silva, muito emocionada após a apresentação, na noite de quinta-feira (24).
Natho Júnior, pai de santo da Espada de São Jorge, o segundo terreiro onde a pesquisa foi realizada, também estava presente como convidado.
Nota máxima – Os médiuns das duas correntes, familiares das alunas e alunos de graduação do curso de Biologia e de Geografia do IFPA campus Bragança prestigiaram a apresentação das colegas. Com o tema “Uma cartografia etnobotânica em terreiros de Umbanda”, o TCC das alunas Marielle Queiroz e Paula Gonçalves foi avaliado com nota máxima.
“O axé, na sua forma mais pura, é vivido na simplicidade dos rituais. As plantas, o canto e a dança nos conectam com o sagrado. E a energia ecoa pelo terreiro. A ancestralidade se faz presente”, escreveu Paula, após a apresentação, nas redes sociais.
A banca de defesa do TCC foi composta por três professores do IF: a professora Dra. Simone Santos, coordenadora do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas (Neabi) do IFPA campus Bragança, o professor Dr. Mauro André Damasceno Melo, da Licenciatura em Ciências Biológicas, e a professora Helane Santos, orientadora da pesquisa.
“Em um curso de formação de professores, tratar desse tema é muito importante”, diz Helane, destacando a necessidade de se ampliarem os estudos na área das Ciencias Biológicas na perspectiva da educação decolonial. “É um esforço para formar professores engajados de necessidades contemporâneas urgentes, como é o combate ao racismo e à intolerância religiosa”, diz a docente do IFPA.
Fonte: IFPA Campus Bragança