Uma “pandemia de obesidade“. É assim que o médico endocrinologista Rubens Tofolo descreve o alto índice de pessoas obesas no mundo, um grande desafio na área da saúde em escala mundial. O profissional chama a atenção para a necessidade do combate à doença e enumera aspectos graves que precisam ser foco de atenção tanto do Poder Público como de toda a sociedade, como a falta de tratamento clínico gratuito.
“Podemos dizer que vivemos uma pandemia de obesidade. Para se ter uma ideia, hoje a gente tem cerca de um bilhão de pessoas com obesidade no mundo. Para os próximos dez anos, a perpectiva é de que tenhamos mais em torno de 200 a 300 milhões de pessoas obesas. No Brasil, a obesidade acomete em torno 21% da população, no Pará nós temos uma incidência um pouco maior, em torno de 25 a 26% da nossa população”, afirma.
Tofolo integra a Associação Brasileira para estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e destaca que, no Brasil, acredita-se que de a 10 a 12% das crianças já tenham obesidade e de 15 a 20% dos adolescentes sejam obesos. “O grande problema é que 8 em cada 10 adolescentes que são obesos vão continuar obesos na fase adulta; o Brasil tem um dos maiores índices mundiais de obesidade infantil do Planeta Terra”, enfatiza o médico.
Sem tratamento clínico gratuito
Uma forma de prevenir a obesidade é por meio de políticas públicas direcionadas a escolas, em que as crianças e adolescentes aprenderiam a comer alimentos de forma correta associado à educação física, que deixou de ser uma obrigatoriedade nas unidades escolas, como pontua o endocrinologista. Falta tratamento clínico gratuito da doença em hospitais públicos, como ele diz. “No Brasil, a gente não tem nenhum tratamento clínico de obesidade em hospital público, esse é um problema sério no Brasil, não existe nenhum tratamento gratuito clínico para obesidade nesse país”, reforça.
Como repassa o Ministério da Saúde, as taxas da doença quase triplicaram desde 1975 e aumentaram quase cinco vezes entre esse público. No entanto, ela afeta pessoas de todas as idades e de todos os grupos sociais nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Segundo a OMS, uma pessoa é considerada obesa quando seu Índice de Massa Corporal (IMC) é maior ou igual a 30 kg/m2 e a faixa de peso normal varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2. Os indivíduos que possuem IMC entre 25 e 29,9 kg/m2 são diagnosticados com sobrepeso e já podem ter alguns prejuízos com o excesso de gordura.
A obesidade é uma doença crônica e recidivante, constituindo-se em um grande problema porque o tratamento é para o resto da vida. “Não adianta achar que perdeu o peso e vai conseguir manter o peso, o que em grande parte das vezes não acontece”, observa o médico.
Mudança do estilo de vida
O tratamento da obesidade é fundamentado na mudança do estilo de vida, ou seja, o paciente vai ter que ter um programa de reeducação alimentar, uma dieta hipocalórica associada a uma atividade física para gasto calórico e associado com medicamento, dependendo da queixa do paciente. Há paciente que tem compulsão alimentar, outros que comem mais por ansiedade e e outros ainda que têm o hábito de comer demais.
A obesidade tem um componente genético importante, 60% do peso do cidadão tem uma origem genética, como destaca Tofolo.”Porém, vivemos num mundo muito obesogênico, ou seja, um mundo em que as pessoas precisam trabalhar muito, têm pouco tempo para fazer uma atividade física e, quando têm, estão cansadas, e se tem um momento de insegurança muito grande, porque as pessoas apresentam dificuldade até de caminhar em uma praça, com medo de serem assaltadas; fora isso, temos o elevador, o controle remoto, praticamente um computador na mão , o carro, sem se movimentar para fazer algum tipo de atividade”, destaca o médico. E ainda há os alimentos gordurosos mais baratos muito consumidos pela população.
A obesidade é um dos principais fatores de risco para várias doenças não transmissíveis (DNTs), como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e várias formas de câncer.
Fonte: Oliberal